quinta-feira, 21 de junho de 2012

Acupuntura estimula memória e aprendizado



     Estudo experimental, realizado por alunos de medicina da Unifesp, confirma efeitos da técnica em ratos: os que receberam aplicações apresentaram melhor desempenho





     Cena que já foi comum na cozinha de Silma Heliana Ferreira, de 42 anos: dezenas de ímãs grudados na porta da geladeira, disputando espaço com outro tanto de bilhetes e recados. Nos últimos meses, porém, isso mudou. Ela começou a fazer sessões de acupuntura para evitar a ansiedade e o estresse. Como resultado, percebeu que a falta de memória diminuiu sensivelmente. Além disso, a papelada que ela precisava manter na geladeira sumiu.

     "Acho que minha memória melhorou por eu me sentir mais calma e relaxada", diz Silma, que também enfrentava dificuldades em seu trabalho de assistente administrativa. "Esquecia onde guardava as coisas e tinha que ler várias vezes um texto para compreendê-lo", lembra.

     O relato dela se aproxima ao de milhares de pessoas que recorrem à acupuntura e notam mudanças na memória e no aprendizado. Uma pesquisa experimental da Unifesp dá pistas para entender casos assim. O trabalho de Fernando Kawano e Márcio Makoto Nishida, alunos do quinto ano de medicina, mostra que ratos submetidos à aplicação de acupuntura nos pontos E-36 (Zusanli) e BP-6 (Sanyinjiao) tiveram a memória potencializada, mesmo depois de submetidos a estresse por choque e imobilização.

     "A acupuntura foi eficaz em avaliações realizadas logo após a experiência e até uma semana depois", comenta Angela Tabosa, professora do Setor de Medicina Chinesa da disciplina de Ortopedia e Traumatologia da universidade e orientadora da pesquisa. O estudo, que foi apresentado no 11º Congresso de Iniciação Científica da Unifesp, analisou os índices de fugas bem-sucedidas dos animais. Eles foram confinados num local fechado e passaram por um processo para aprender como fugir.

     Os pesquisadores separaram os ratos em dois grupos. O primeiro foi submetido a estresse na caixa de esquiva - compartimento composto por dois recintos distintos, no qual, em um deles, uma corrente elétrica de baixa intensidade era acionada em intervalos fixos. Os ratos do segundo grupo, considerado controle, não foram expostos aos estímulos elétricos. Eles permaneceram no mesmo compartimento por uma hora para se familiarizarem com o ambiente.

     A segunda parte do estudo envolveu o aprendizado da fuga. Todos os animais avaliados, inclusive os do grupo controle, foram colocados na caixa de esquiva. Eles ficaram num compartimento com uma porta de intercomunicação para possibilitar que fugissem do choque. A abertura da porta ocorria assim que uma luz fosse acesa, como uma espécie de alerta.

     Antes dessa fase, entretanto, os ratos do primeiro grupo foram divididos em quatro subgrupos, sendo que cada um deles recebeu choque; choque e imobilização; choque, imobilização e acupuntura; e choque, imobilização e acupuntura em pontos falsos, respectivamente. Todos os animais foram avaliados após os estímulos nocivos nos intervalos de uma hora, 48 horas e uma semana, para verificar a memorização do aprendizado.

     Os ratos que receberam acupuntura nos pontos relacionados à memória logo após os estímulos estressantes conseguiram fugir em 80% dos 30 testes realizados. Esse desempenho se aproxima ao do grupo controle, que teve 77% de fugas bem-sucedidas. Entre os que não receberam acupuntura após o estresse, o maior índice de sucesso foi de 62%.

     "A idéia agora é analisar os efeitos das agulhas na memória e no aprendizado de seres humanos", afirma Angela Tabosa, a orientadora do trabalho. Segundo ela, já está em andamento a criação de um protocolo de pesquisa, que será realizada na Unifesp com essa finalidade.


ANA CRISTINA COCOLO

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